A arte de ter fé no impossível

“There is no such thing as inspiration. You have to WORK!”

George Balanchine

Acho que me identifico com o ballet justamente por causa de sua tamanha exigência. Exigência por disciplina, pela perfeição que não existe (e por isso, nunca alcançada), pelo cumprimento de regras claras e universais. Por mais que eu adore me sentir inspirada e busque compartilhar o que me inspira com o mundo, tenho total consciência de que, sem o trabalho e a dedicação para tirar uma ideia da mente para o mundo real, de fato, nada acontece. A arte sem o trabalho não se forma. E o ballet me convida a trabalhar.

Hoje, depois de me sentir frustrada, limitada e estagnada por muitas semanas, decidi me dar um tapinha nas costas. Durante o filme sobre a vida de Nureyev – The White Crow –, ao assistir a cena dele criança, aprendendo os primeiros passos na barra com a professora, pensei o quanto sou vitoriosa por conseguir fazer uma aula completa de ballet. Mesmo com certas dificuldades, como a minha pouca agilidade e falta de memorização, eu executo os passos, sigo em frente e entendo todo aquele mecanismo, todo aquele universo. Ele já me pertence, eu o entendo.

O ballet é extremamente difícil, é realmente para os fortes. Aprender os passos mais simples, como um plié com o encaixe correto, ou aprender as posições dos braços e cabeças, ou a técnica certa de se fazer um tendu, leva tempo e requer muita atenção e persistência.

Você lembra de quando iniciou no ballet? Lembra da primeira vez que entendeu o que era uma divisão de peso das pernas, ou o que era um “en dehors desde o quadril”? Pois relembre e veja o quanto você progrediu e, se hoje esses pequenos detalhes (que de “pequenos” não têm nada, pois são toda a base do ballet clássico) estão intrínsecos no seu corpo e na sua alma, você venceu.

Eu venci. Eu trabalho todos os dias para ser melhor do que já sou. O ballet é para quem tem fé no impossível.